segunda-feira, 21 de julho de 2014

Português, com certeza

Uma das coisas com que mais me divirto quando viajo para França é a espera no aeroporto aquando do regresso. Consigo sempre identificar os portugueses que por lá andam, mesmo sem os ouvir falar. Há duas espécies que se destacam, os provincianos - regra geral originários do norte de Portugal - e as tias, da zona de Lisboa.
Os provincianos identificam-se pelo coçar da tomatada e pela indumentária. Eles, dependendo da idade, de calça de tirelene (como dizem as velhas aqui da zona) e o belo do pólo às riscas, ou de bermudas nas cores e padrões mais ridículos que se possa imaginar e camisolas com mangas cavas. Elas com penteados e acessórios que nos deixam com dores de cabeça, só de lhes pôr os olhos em cima.
As tias, todas muito chiiiiques, a falar alto para que se perceba que elas estão lá, com as peles todas queimadas do sol e encarquilhadas, sempre cheias de razão, que aquilo lá por França é só pessoas ignorantes e que não sabem fazer as coisas, pois então não sabem que elas estão ali, que é isso agora de querer fechar os embarques sem elas? Uma canseira.
E é assim que me divirto enquanto espero pelo embarque e me deixo ficar por ali caladita e de volta do meu livro e a pensar que, mal por mal, prefiro os provincianos.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Há portas que se fecham para sempre

Ele deu-te o que tinha de mais precioso e que há anos não dava a ninguém, a sua inteira disponibilidade para estar contigo, abriu-te as portas do coração e pôs-te nas mãos o dele. Desvalorizaste, não quiseste perceber que eras a sua prioridade e que o que ele mais queria era ser a tua também. Ele insistiu, deu-te todas as oportunidades para que visses o que te estava a ser concedido, mas tu, como sempre, viraste a cara e deixaste que ele se começasse a afastar. Todos os dias mais um bocadinho, até que se afastou de vez, até que, com o coração em ferida, fechou a porta e prometeu a si mesmo que essa era uma porta que não voltaria a abrir. E agora, meses depois, quando o sabes nos braços de outra, de alguém que o quer pelo que ele é, que o fez a prioridade da sua vida, que o conquistou com o amor que lhe dedica, agora sabes que perdeste o homem que te traria a felicidade que nunca conheceste. Queres saber tudo, quem é ela, como se conheceram, desde quando estão juntos. Para quê, pergunto-te? A porta fechou-se, nada podes fazer para que se abra de novo. Sim, às vezes acordamos tarde demais.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Não te iludas

E de repente, por conta do cheque que o teu pai te passou para as mãos, voltaste a ser feliz. A vida já é outra vez maravilhosa, já podes voltar a "dar-te" com os do costume, já podes fazer bonito outra vez. As férias aí à porta, planos de uma semana em algum dos destinos mais badalados, onde possas ver e ser visto. A miúda nova a tiracolo, muitas palavras bonitas, as mesmas que dizes a todas aquelas com quem te enrolas, nem nisso consegues ser original. E eu pergunto: e quando se acabar o dinheiro? Dou-te um mês até recomeçarem as lamentações. A vida que é uma merda, que não és feliz, que precisas arranjar uma casa só para ti, que o teu pai não te compreende e castra a tua vontade de chegar mais longe. A tua mãe que te envergonha, a miúda que afinal não era assim tão espectacular e que exigia demasiado de ti. A cara amarrada, o sorriso bonito que já lá não mora, a auto comiseração que me irrita profundamente, a minha paciência que se esgota e um dia mando-te à merda. Os amigos também se cansam.
Precisas crescer, precisas tanto de crescer. Vais ser sempre infeliz, vais acabar atracado a uma gaja burra e limitada, como as mulheres dos teus pseudo amigos a quem tanto apontas o dedo. E vais, tal como eles, ter uma vida de merda. E não consegues perceber o óbvio, tens tudo para ser feliz, tudo! Mas não queres, recusas-te, preferes esconder a cabeça na areia e maldizer a vida, porque ser feliz dá trabalho. A tua felicidade depende só de ti, tens que a procurar todos os dias e não lhe vires as costas quando ela te bater à porta.
Ouve o que te digo, vai conhecer mundo, vai descobrir que a vida é mais, muito mais, do que dizer que estiveste lá. Não queiras que saibam que estiveste lá, não grites ao mundo que estás apaixonado (ou acreditas que estás), deixa que te baste sentir, é tão melhor. Não queiras uma mulher para mostrar aos teus amigos, não são eles que a vão levar para casa ao fim do dia. Não vivas pelos outros, vive por ti.