quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Acha que é feliz, diz ela.

Encontras uma gaja que estudou contigo e com quem já não falavas há vinte anos. Em sete minutos de conversa ela consegue dizer-te que só conhece a piroca do marido, com quem tem dois filhos, um rapaz com dezassete e uma rapariga com dez anos, que nunca experimentou outra, logo acha que está bem, que trabalha com o santo do marido, que têem três empregados, que construiu uma vivenda (as pessoas gostam de dizer vivenda, casa é uma coisa assim de pobre), que o irmão é treinador de guarda redes numa equipa da primeira divisão, que o que importa é que tem saúde e que acha que é feliz. Ela vai à vidinha dela, depois de lhe teres dado a entender que gostavas muito de acabar o teu jantar, e ficas a pensar que além de descompensada a criatura sofre de amnésia selectiva, porque antes do marido já ela tinha pinado e muito com uma piroca que a deixou avariadinha das ideias quando se passou ao fresco e o que lhe valeu foi o marido, que sempre teve olhos só para ela . Olhas para trás e vês o marido, um querido, com o mesmo sorriso doce de há vinte anos atrás e pensas: ela acha que é feliz, ele tem a certeza que o é.
E são coisas destas que te fazem pedir ao Senhor que te mantenha sempre orientadinha da piroliteira e que reforçam a ideia que tens de que há gajos muito tenrinhos e mulheres muito dissimuladas e manipuladoras.

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