Houve um tempo, durante muito tempo, em que amei muito, desmesuradamente. Amei mais do que devia pelo meu próprio bem, queria mais ao outro do que queria a mim, não via senão o outro e acreditava piamente que o sentimento era em tudo recíproco.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que acreditei no para sempre, em que inconscientemente me privei de amizades e da vida em prol do outro, porque a minha vida era o outro.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que acreditei em príncipes encantados e na nobreza de sentimentos dos homens.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que fui tratada como uma princesa dos contos de fadas e em que acreditei que era porque me amavam; mentira, era pura e simplesmente por egoísmo, por narcisismo do outro. Afinal de que outra forma se mantém uma mulher completamente rendida senão tratando-a muito bem?
Houve um tempo em que, contra tudo aquilo em que eu acreditava, a vida me mostrou que as traições podem ser perdoadas, dependendo do tamanho da nossa dependência emocional do outro.
Houve um tempo em que hipotequei a minha vida, construída sobre um castelo de cartas que habilmente me levaram a acreditar ser de pedra sólida.
Esse tempo acabou no dia em que percebi que perdoei uma traição, mas não conseguirei nunca perdoar uma deslealdade. A deslealdade é uma faca que nos cravam nas costas e que nunca mais a conseguem de lá tirar, a deslealdade aniquila tudo aquilo em que acreditávamos, a deslealdade faz-nos descer das nuvens e ver a verdade nua e crua da podridão do outro. A deslealdade acaba com a nossa inocência, com a nossa capacidade de algum dia voltar a acreditar no para sempre. A deslealdade mata-nos a pureza de sentimentos, mas torna-nos mais fortes, ensina-nos que na vida devemos gostar sempre mais de nós do que dos outros.
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