quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Houve um tempo...

Houve um tempo, durante muito tempo, em que amei muito, desmesuradamente. Amei mais do que devia pelo meu próprio bem, queria mais ao outro do que queria a mim, não via senão o outro e acreditava piamente que o sentimento era em tudo recíproco.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que acreditei no para sempre, em que inconscientemente me privei de amizades e da vida em prol do outro, porque a minha vida era o outro.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que acreditei em príncipes encantados e na nobreza de sentimentos dos homens.
Houve um tempo, durante muito tempo, em que fui tratada como uma princesa dos contos de fadas e em que acreditei que era porque me amavam; mentira, era pura e simplesmente por egoísmo, por narcisismo do outro. Afinal de que outra forma se mantém uma mulher completamente rendida senão tratando-a muito bem?
Houve um tempo em que, contra tudo aquilo em que eu acreditava, a vida me mostrou que as traições podem ser perdoadas, dependendo do tamanho da nossa dependência emocional do outro.
Houve um tempo em que hipotequei a minha vida, construída sobre um castelo de cartas que habilmente me levaram a acreditar ser de pedra sólida.
Esse tempo acabou no dia em que percebi que perdoei uma traição, mas não conseguirei nunca perdoar uma deslealdade. A deslealdade é uma faca que nos cravam nas costas e que nunca mais a conseguem de lá tirar, a deslealdade aniquila tudo aquilo em que acreditávamos, a deslealdade faz-nos descer das nuvens e ver a verdade nua e crua da podridão do outro. A deslealdade acaba com a nossa inocência, com a nossa capacidade de algum dia voltar a acreditar no para sempre. A deslealdade mata-nos a pureza de sentimentos, mas torna-nos mais fortes, ensina-nos que na vida devemos gostar sempre mais de nós do que dos outros.

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