quarta-feira, 7 de maio de 2014

O dia da minha mãe é todos os dias

Não tenho memória de alguma vez ter "comemorado" o Dia da Mãe. Não porque não goste da minha mãe, mas porque no meu tempo de escola ainda não se promoviam todas as actividades que se promovem hoje em redor desse dia e porque lá em casa nunca foi algo muito valorizado.
Tinha eu catorze anos quando a minha mãe sofreu um AVC devastador, que a deixou durante alguns anos completamente dependente de terceiros e com limitações para a vida. A minha infância acabou nesse dia e passei eu a ser a mãe da minha mãe. Não tem sido uma tarefa fácil. Desde esse dia que a minha mãe faz o que as adolescentes mais rebeldes costumam fazer, medir forças com a mãe. É esta a melhor definição da nossa relação, a minha mãe mede forças comigo todos os dias. Se lhe peço para não fazer alguma coisa, é certo que a vai fazer. Se lhe chamo a atenção, para o seu próprio bem, para algo que não deveria ter feito, amua e faz birra. Nos primeiros anos foi-me muito difícil aceitar e gerir isso, mas com o avançar da idade fui percebendo o porquê desta sua atitude e aprendi a respirar fundo muitas vezes e a relevar as situações mais complicadas. Não a posso pôr de castigo, não lhe posso dar uns açoites, por isso resta-me respirar fundo e esperar que passe.
A parte mais difícil de ser mãe da minha mãe não é ter que lhe dar banho, ter que lhe arranjar o cabelo, cortar-lhe as unhas dos pés e das mãos. A parte mais difícil de ser mãe da minha mãe é conseguir fazê-lo sem que ela sofra com a inversão dos papéis.

2 comentários:

  1. Um beijo! És uma mulher corajosa e certamente tens um coração do tamanho do Mundo. :)

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  2. Obrigada! Um beijo também para ti. :)

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