segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sopeira? Não, obrigada.

Namoraram 27 anos, daqueles namoros à antiga, em que ele ia vê-la à quarta feira à noite a casa dos pais e ao Domingo levava-a às matinés.
Trabalhavam na mesma empresa, mas nunca almoçaram juntos, as pessoas podiam falar. O mal das terras pequenas.
Ele, um bon vivant, vivia em casa da mãe, que lhe tratava da roupa e cuidava para que nada lhe faltasse. Ela, filha dedicada aos pais e à casa, esperava ansiosamente pelo dia em que ele a pediria em casamento, em que poderia ter filhos e a sua própria casa.
Passaram os anos, mantiveram-se as rotinas, as esperanças de que o pedido de casamento surgisse foram-se dissipando e ela acabou por conformar-se com aquela vida. Afinal quem a poderia querer depois de tantos anos de namoro com o mesmo homem?
Ao fim de 27 anos a mãe dele morreu. Deixou de ter quem lhe tratasse da roupa e da casa e achou que era uma boa altura para casar. Aprumou-se, comprou o anel e foi pedir a mão dela. Disse-lhe que chegara a hora de a tornar sua mulher. Ela, mulher simples e com pouca experiência da vida, olhou-o nos olhos e declinou o pedido. Aqueles 27 anos serviram para ela perceber que ser simples é uma coisa, ser sopeira do homem que a cozinhou em banho-maria durante tantos anos é outra.
Ela continua a viver com os pais, não se lhe conheceu outro namorado. Ele vive entregue à solidão e às empregadas a dias que lhe lavam a roupa e limpam a casa.
Lá diz o velho ditado, cada um deita-se na cama que fez.

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