terça-feira, 19 de novembro de 2013

Da tristeza da minha querida E.

Conhecem-se desde sempre, cresceram juntos. Ela, mais nova poucos anos, viu-o tornar-se adulto e "obrigado" a casar porque "engravidou" a namorada. Ele viu-a tornar-se mulher, apaixonar-se, viver um grande amor, desiludir-se profundamente, viver relacionamentos que pouco ou nada lhe acrescentavam. Um dia, passados mais de vinte anos, foram tomar um café, só os dois. Ele desabafou as mágoas de um casamento sem amor, mas que se mantém porque é mais fácil assim. Ela encontrou nele o amigo que a ouvia e sabia dizer o que ela precisava ouvir. Passados alguns outros cafés e muitas horas de conversa, o inevitável aconteceu. Ela apaixonou-se perdidamente, criou as expectativas todas que ele foi alimentando. Ele encontrou o melhor de dois mundos - de um lado a família que não tem coragem de deixar, do outro a mulher que o completa, que lhe faz fervilhar o sangue nas veias. Andam nisto há cinco anos, parece que foi ontem que começou. Pelo caminho muitas promessas não cumpridas, muitas cobranças e o sonho dela de ter filhos que já não se concretizará. O relógio biológico das mulheres não se compadece da falta de coragem dos homens que elas amam.
Ontem, numa das nossas muitas conversas sobre esse amor condenado ao fracasso, ela confessou-me que está cansada. Cansada de esperar, cansada de ouvir sempre as mesmas promessas, de fazer sempre as mesmas cobranças, cansada de não ser a prioridade da vida dele. Acima de tudo, cansada de fechar os olhos às evidências, ele nunca vai dar o passo que falta. E mais do que sofrimento, vi nela uma tristeza profunda, de quem sabe que dificilmente a Vida lhe permitirá voltar a amar alguém como o ama a ele. E senti-me pequenina, porque não sei o que possa fazer para lhe tirar essa tristeza do coração.

Sem comentários:

Enviar um comentário